Polêmica logo na primeira reunião
Encontro do Conselho do MP é marcado por debate sobre a interferência do grupo no trabalho dos procuradores
A primeira reunião do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) realizada fora de Brasília foi marcada pela polêmica. Reunidos em Belo Horizonte na manhã desta segunda-feira (7/11), promotores e procuradores de Justiça de todo o país manifestaram temor a uma possível interferência do grupo, que foi criado através da emenda constitucional 45 (a Reforma do Judiciário) e é responsável pela fiscalização administrativa e financeira do MP da União e dos Estados. O Conselho pode receber denúncias contra integrantes ou órgãos do MP e determinar sanções administrativas como remoção, disponibilidade e aposentadoria.
“A reunião trouxe uma relevante preocupação: a defesa da federação, através do respeito ao MP dos Estados. As últimas decisões do Conselho Nacional do Ministério Público, de alguma forma, podem vir a ferir a constituição dos Estados e a lei orgânica”, afirmou ontem o presidente do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais dos Estados e da União (CNPG), Francisco Salles, do MP de Pernambuco. O pivô da discussão foi a decisão do CNMP de cancelar verba de 30% paga aos promotores e procuradores de Roraima para o pagamento de cursos, sem ouvir o procurador-geral do Estado.
Presidente do CNMP, o procurador-geral da República, Antônio Fernando Barros, negou qualquer prática autoritária do grupo. “O conselho nacional está se adaptando, e claro, retira espaço de alguém, sem que isso influencie na autonomia do Ministério Público ou do Judiciário. O importante é que os agentes à frente dos conselhos saibam dialogar”, rebateu. O procurador ainda argumentou que todas as decisões tomadas pelo conselho podem ser objeto de ação no Supremo Tribunal Federal (STF). O conselho é composto por mais 12 integrantes, escolhidos entre o MP, juízes, advogados e cidadãos comuns.
Sigilo
Sobre as investigações feitas pelo Ministério Público Federal acerca das denúncias do pagamento de mensalão a parlamentares da base aliada e uso de caixa dois em campanhas eleitorais, o procurador-geral Antônio Fernando disse que o resultado vai “surpreender”. “A imprensa vai se surpreender. O Ministério Público e o procurador-geral fizeram tudo certo na hora certa. Não deixaram de fazer nada”, limitou-se a dizer, sem esclarecer quais seriam as “surpresas”, alegando a importância do “sigilo”.
Antônio Fernando explicou apenas que todas as investigações estão sendo feitas sem interferências do Executivo ou de qualquer outro poder. “Ninguém me pediu nada e nem eu dei espaço para que me pedissem”, ponderou. Em Minas Gerais, o procurador-geral Jarbas Soares assegurou que o MP tem atuado para apurar todos os fatos, mas ainda faltam provas concretas para a abertura de ações judiciais. “Se tivéssemos comprovado tudo, o MP já teria agido”, afirmou.
Fonte: jornal Estado de Minas