São Gabriel: Campanha contra o crime e as drogas é lançada na cidade
A mais recente etapa das ações desencadeadas pelo Rio Grande do Sul para enfrentar a drogadição e a criminalidade foi realizada durante esta semana em São Gabriel, na Região Central. Na quarta e na quinta-feiras, cerca de 700 pessoas acompanharam as iniciativas organizadas pela Promotoria de Justiça. Dos encontros restou, além da sensibilização de aproximadamente 500 estudantes e de representantes do município e da comunidade, a convicção de que é preciso ampliar as medidas preventivas, como a qualificação do sistema de saúde, para evitar o surgimento de novos dependentes químicos e criminosos potenciais.
Cerca de 200 autoridades e agentes públicos participaram, na noite de quarta-feira, do evento de lançamento da campanha local contra a criminalidade. A iniciativa intitulada São Gabriel Contra o Crime, inspirada na iniciativa da AMP/RS de combate ao crack, foi realizada no Clube do Comércio. O promotor Nilson de Oliveira Rodrigues Filho, coordenador do Gabinete de Apoio e Planejamento Institucional do MP, representou a Instituição durante o evento.
Segundo a promotora de Justiça Ivana Battaglin, idealizadora do projeto, o evento foi excelente para promover o encontro das maiores autoridades da cidade e as forças vivas da comunidade, que podem se articular para mudar a realidade. “Esse é o pontapé inicial desta grande caminhada que temos pela frente”, observou Ivana, que é auxiliada pelos colegas Lisiane Villagrande Veríssimo da Fonseca e Sérgio Cornelles Matheus na condução das ações de combate ao crime na cidade.
O comandante da Brigada Militar, capitão Aníbal Menezes da Silveira, considerou a iniciativa importante. Para ele, o MP tem força para associar entidades e dar suporte a esse trabalho. “A BM faz um trabalho mais repressivo, e na realidade temos que trabalhar antes de a pessoa se tornar um consumidor (de drogas). Porque, infelizmente, o usuário de drogas, ao contrário das vítimas de outros crimes, não procura a polícia. E isso dificulta muito o trabalho de dimensionamento
Promotoras Ivana e Lisiane vistiram camiseta contra o crack
dessa situação. União de esforços é a palavra-chave”, relatou o capitão.
O vice-presidente da AMP/RS, Mauro Souza, foi um dos palestrantes da noite. De acordo com ele, a atividade em São Gabriel se justificou pela necessidade de intensificação das ações de prevenção. “Enquanto houver mercado para o crack, haverá tráfico e consumo da droga. O que se precisa fazer é, com medidas preventivas, buscar reduzir esse mercado. E daí até a repressão funciona melhor. Acredito que fizemos o pessoal refletir acerca da necessidade de criar e implantar políticas de prevenção. Não é possível trabalhar apenas em cima de repressão e do tratamento do drogado” observou o promotor.
O coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) para a Região Sul, Manoel Soares, provocou as autoridades a refletirem sobre os números do crack no município. Segundo dados fornecidos pelos representantes da área da saúde que estavam na platéia, existem hoje em São Gabriel cerca de 200 usuários de crack, que consomem em média 10 pedras por dia. No município, uma pedra custa R$ 10, o dobro do valor cobrado em Porto Alegre. Isso representa uma movimentação de cerca de R$ 20 mil por dia com o tráfico no município.
Mas os dados, que impressionaram os presentes, foram questionados pelo vice-presidente da Associação. “Acredito que a situação de São Gabriel seja ainda mais grave, pois no município não há equipes de Saúde da Família. Os números apresentados são resultado da demanda recebida na Secretaria de Saúde do Município, mas não temos informações de quem não procura ajuda do serviço de saúde. Há notícias que em São Gabriel esse número chega a ser cinco vezes maior”, advertiu Souza.
Platéia agitada
O evento continuou na tarde de quinta-feira, desta vez para um público de estudantes da rede pública. Bastante inquietos ao chegar, os jovens e crianças logo foram conquistados pelo tema proposto e forma de condução da atividade.
Vinculando os efeitos da droga à criminalidade, o vice-presidente da Associação mostrou aos estudantes que todos têm envolvimento com o problema do crack.
Segurando o telefone celular de uma adolescente da platéia, ele afirmou que o aparelho pode ser trocado, no meio do tráfico, por duas ou três pedras de crack. “Mesmo que não conheçam ninguém que use esta droga, seus efeitos podem afetá-los, fazendo de vocês possíveis vítimas de assaltos”.
À garotada, Manoel Soares apresentou situações reais de relação com o universo do crack, explicando os desdobramentos e os perigos da aproximação com a droga, a exemplo das demais palestras apresentadas pelo Estado. Mas em uma frase proferida ainda na abertura de sua fala, sintetizou o espírito que mobiliza cada integrante de todas as campanhas em andamento. “Eu poderia estar em qualquer lugar hoje, mas estou aqui porque acredito que este nosso encontro pode ajudar a salvar a vida de pessoas como vocês”.