UM MILHÃO DE ZUMBIS - Zero Hora
Parece um filme de terror, mas é realidade em nosso país e é igualmente apavorante. De acordo com estimativas apresentadas por especialistas durante o lançamento da Frente Parlamentar Mista de Combate ao Crack, na Câmara dos Deputados, o Brasil já tem mais de 1 milhão de usuários da droga. Ao lançar ontem o plano nacional de combate ao tráfico e ao uso de crack, durante a 13ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a urgência de enfrentar este flagelo que destrói vidas, desintegra família e condena à marginalidade e à degradação milhares de brasileiros.
Um milhão de usuários, no caso do crack, uma droga que causa dependência já nas primeiras experimentações, significa 1 milhão de pessoas transformadas em zumbis, sem vontade própria, vivendo apenas para a pedra e pela pedra. Significa, também, 1 milhão de escravos de um vício que afeta o cérebro e a saúde dos dependentes, sentenciando-os à morte prematura. Significa, ainda, uma sociedade refém dos efeitos colaterais de um vício estimulador da violência e da criminalidade. E significa, acima de tudo, uma legião de doentes necessitados de assistência especializada e incontáveis famílias desesperadas por não saber a quem recorrer em busca de ajuda.
Diante desta situação caótica, é mais do que oportuno que o governo federal assuma a responsabilidade de coordenar uma mobilização nacional destinada a capacitar lideranças comunitárias para o enfrentamento desta verdadeira praga que se abate sobre a sociedade brasileira. Também é relevante que o plano federal tenha sido lançado na presença dos 4 mil prefeitos reunidos em Brasília, pois os municípios têm papel decisivo nesta causa, principalmente na execução de ações preventivas e na orientação aos familiares dos usuários e dependentes da droga.
Com bem ressaltou na oportunidade o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, o projeto ontem anunciado representa também um reconhecimento de que a luta contra o crack, transformada em bandeira institucional do Grupo RBS por dois anos consecutivos, é uma questão prioritária para o país. E também uma questão urgente: se o Brasil quiser resgatar para uma vida saudável pelo menos parcela desta população de dependentes – que equivale a duas vezes o número de habitantes de uma capital como Florianópolis –, precisa transformar logo o discurso em ação. Não há mais tempo a perder. Os doentes precisam de ajuda, as famílias precisam ser orientadas, a sociedade precisa ser protegida.
O governo federal e os prefeitos que se sensibilizarem com a causa são muito bem-vindos nesta luta, pois o crack já se transformou num dos principais problemas de saúde pública e num dos mais importantes fatores da criminalidade no país.
É mais do que oportuno que o governo federal assuma a responsabilidade de coordenar uma mobilização nacional destinada a capacitar lideranças comunitárias para o enfrentamento desta verdadeira praga que se abate sobre a sociedade brasileira.
Fonte: Editoriais de Zero Hora, 21 de maio de 2010.