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Painel debate os aspectos do novo rito do júri

Abordagens apaixonadas e ainda assim sustentadas pela coerência e o respeito à Constituição movimentaram a tarde desta quinta-feira, no Encontro Nacional dos Promotores do Júri. Durante o painel Aspectos do Novo Rito, coordenado pelo promotor José Nilton Costa de Souza, foram fortes as críticas e os questionamentos quanto à pertinência das mudanças propostas no projeto que reformula os procedimentos do júri. Ao final do painel, uma longa e ampla discussão apontou propostas de ação para tentar barrar as restrições impostas pelo texto que está sendo analisado no Senado Federal.
13/08/2010 Atualizada em 21/07/2023 10:58:27
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Abordagens apaixonadas e ainda assim sustentadas pela coerência e o respeito à Constituição movimentaram a tarde desta quinta-feira, no Encontro Nacional dos Promotores do Júri. Durante o painel Aspectos do Novo Rito, coordenado pelo promotor José Nilton Costa de Souza, foram fortes as críticas e os questionamentos quanto à pertinência das mudanças propostas no projeto que reformula os procedimentos do júri. Ao final do painel, uma longa e ampla discussão apontou propostas de ação para tentar barrar as restrições impostas pelo texto que está sendo analisado no Senado Federal.





RISCO DE INDUÇÃO DO JÚRI

marcios300.jpgAs medidas sugeridas sob o pretexto de assegurar as garantias de um julgamento justo ao réu seriam, na ótica dos painelistas, ferramentas para reduzir o problema da superlotação dos presídios e manter aberta a janela da impunidade. Primeiro a falar no evento, o promotor de Justiça de Rio Grande, Márcio Schlee Gomes apontou uma das principais falhas no que se propõe. “No passado, se discutia o fim do júri por absolver demais. E agora, com a criminalidade aumentada enormemente, quer-se alterar por condenar demais”.



Segundo ele, muitas alterações estão sendo sustentadas com o objetivo velado de beneficiar o reu. Os quesitos a serem respondidos pelos jurados, inclusive, teriam sido reconstruídos para induzir o jurado a absolver.

Márcio também apontou a proposta da abertura da comunicação entre os membros do júri como um crime contra a Constituição Federal. “O sigilo das votações é princípio constitucional do júri brasileiro” ressaltou.



NÃO FOI UM BOM NEGÓCIO

gonza300.jpgEm uma fala equilibrada e muito elogiada pela plateia, o promotor de Justiça aposentado e professor de processo penal José Fernando Gonzalez não crê que as mudanças serão eficazes se não atacarem objetivamente as fases de investigação e de execução da pena. Segundo ele, o Estado, com as cadeias superlotadas, progride o regime de presos que não estão recuperados, devolvendo essas pessoas à sociedade de forma irresponsável. “Até que ponto a reforma setorial do Direito Penal foi um bom negócio. Posso dizer que não foi. Um Código Penal é corpo único, que tem de ser pensado equilibradamente. Não posso mexer oportunisticamente a norma, aumentando a pena aqui, rigorizando o regime de aplicação dessa pena adiante, porque isso vai acabar desequilibrando o corpo. E com isso vai desacreditá-lo”, advertiu.



Gonzalez argumenta que a estrutura da repressão sofreu um desgaste que não será resolvido com o processo penal. “Criminoso do colarinho branco têm muito mais medo da ação de improbidade administrativa do que do processo penal. Isso é um absurdo em qualquer sociedade organizada. Temos de resgatar a dignidade do direito penal, que sirva de resguardo para a sociedade, que faça com que o réu tema a conseqüência do seu crime. Se pensarem que podem tudo e a expectativa de impunidade for enorme, não haverá processo que dê conta”, concluiu.



INSEGURANÇA FECHA JÚRIS NO RIO

monteiro300.jpgA realidade enfrentada pelos promotores do Júri no Rio de Janeiro também foi apresentada como referência para a discussão do projeto de reforma. Na capital fluminense, diversos tribunais do júri foram extintos nos últimos anos. Hoje só há os quatro do foro central, conforme o promotor Marcelo Rocha Monteiro.

Na Ilha do Governador, bairro tomado pela criminalidade, o foro criminal foi extinto por falta de condições de segurança, relatou. “Imaginem que mensagem está sendo passada à população. Há uma sensação de desalento. Em algumas áreas do Rio, o índice de apuração de autoria dos crimes contra a vida é de apenas 1%. Se matar, o criminoso tem 99% de chance de ficar impune”, destacou.



Para ele, é preciso investir no aprimoramento da investigação policial, que tem 1% de êxito em algumas áreas daquele Estado. Outro ponto que precisaria receber mais atenção são os critérios para a execução da pena. “Agora, essa nova norma proposta vem restringir, e muito, a atuação em plenário. Não se pode fazer menção ou ler um trecho sequer em plenário de um depoimento prestado em sede policial ou prestado em primeira fase. É um absurdo estabelecido pelo projeto. Uma ingerência na liberdade que deve caracterizar a atuação em plenário. E o prejuízo será muito maior à Promotoria. O viés do legislador está muito claro”, disse Monteiro.



RESGATE DA DIGNIDADE

bonfa300.jpgO discurso tradicionalmente inflamado do procurador de Justiça de São Paulo Edilson Mougenot Bonfim encerrou o painel, antes da abertura dos debates. Seguindo a mesma linha de seus antecessores, ele fez duras críticas ao que classificou como uma tentativa de tirar a dignidade do júri. “Quais os fundamentos que levam a essa reforma no Processo Penal? Em 1992, quando se formoou a primeira comissão pra discutir o assunto, os motivos eram a celeridade processual e o fim da impunidade. Pois agora, 18 anos depois, a preocupação é em desprisionalizar, em devolver a liberdade, mas o texto não menciona em momento algum o ideal de fazer justiça”.



Depois de fazer um resgate histórico da construção do júri e do Direito Penal brasileiro, Bonfim criticou a tentativa de alteração no conteúdo dos quesitos ao corpo de jurados. “Em vez de perguntar se o réu é culpado do fato, como na França, se é culpado ou inocente, como na Inglaterra, o processo penal brasileiro simplesmente quer perguntar se o jurado absolve o reu”.



Para ele, há uma armadilha aí. “A aparência é de garantia, de respeito à constituição. Mas não é isso que se assiste. A França e a Inglaterra têm prisão perpétua, e lá isso não é visto como uma afronta à democracia. O promotor de Justiça, no Brasil, perdeu a cátedra. Ela é dominada pelos advogados criminais. Estamos perdendo força. Mas aqui neste encontro somos os resistentes”, disse. Bonfim ainda encerrou convocando os colegas a batalhar pela preservação de aspectos fundamentais do formato dos júris. “Temos o compromisso de não deixar essa luta arrefecer. Temos nesta oportunidade um compromisso com o futuro. Vamos devolver a dignidade àquilo que querem nos tirar”.
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